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Gênero: drama/adulto

Sinopse: "Gustavo é um escritor bem famoso, porém, por outro lado, quando o assunto é trabalho, ele não consegue deixar de procrastinar. O pior é que; às vésperas de entregar os três primeiros capítulos de seu novo romance — há meses cobrado pelo agente — tudo o que acontece à sua volta logo se transforma num belo motivo pra se distrair".

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No relógio; oito horas da manhã, em ponto. O aplicativo Word está aberto, e a barra do cursor pisca na tela do meu computador. Meus dedos sobem e descem, martelando a mesa de madeira consecutivamente, enquanto a música “Spring Rain” — de uma banda coreana qualquer — é só o aquece meu coração neste instante. Olho para o mouse. Mas ele também olha pra mim, e, diante das minhas mãos impotentes, o teclado permanece imponente com suas inúmeras teclas pretas e brancas a caçoar de uma inspiração que nunca chega. Frustrado, levanto-me de repente, e a força cinética dos meus braços faz a cadeira rodopiar. Na cozinha; um gole de café. Depois mais um, e mais um; e mais um. E como isso não é o bastante; coloco a xícara sobre a mesa, retiro a camiseta, e me dirijo em passos lentos até a sacada, para tomar pelo menos um pouco de ar. “O dia está lindo!” — eu penso diante da imensidão do céu azul sobre mim, com as gaivotas a grasnar e a sobrevoar sobre as areias quentes da praia de Copacabana; sem contar os inúmeros banhistas lá embaixo a desbravar as águas geladas que ora e outra quebram em bravias ondas sobre seus corpos, e um tempo depois, aos poucos, singelamente vão retornando ao seio do mesmo mar.

 De repente uma brisa suave passeia no meu rosto e sem querer penso justamente em você, no seu lindo sorriso. Eu juro que não queria isso, pois de fato o que eu queria mesmo era começar a escrever os primeiros capítulos do meu mais novo romance, e assim poder cumprir o prazo sobressalente que a editora me concedera em seu último telefonema. Mas você chegou de repente, e quando dei por mim, sua doce presença já tinha se alastrado por completo, paulatinamente agitando meu coração nas memórias dos dias que passamos juntos. “Ah, meu Deus, meu Deus! Por que me recordar disso agora?!” Desprezo estes pensamentos por um instante e me forço a voltar pra frente do computador pra ver se consigo me esquecer de você. Sento-me na presidente, e coloco os óculos que outrora repousava tranquilo ao lado de meu bloco de notas. Mas passa um tempo e o danado do meu coração permanece do mesmo jeito de antes, ou seja, sem cooperar com o trabalho que necessito u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e começar. “Cacete!” — grito. Mas o desabafo só faz as coisas piorar, pois desta vez me recordo é da formosura do seu corpo, do cheiro embriagante da sua pele, assim como daquele seu conjunto de coisas que — em questão de segundos — incendeia o que ainda resta de pensamentos. Isso é golpe baixo! — reclamo — Preciso me concentrar no trabalho, caralho! Depois de dizer isto, viro para o meu coração e o sentencio: “Pare de ficar vadiando por aí, me sujeitando ao passado, me forçando a reviver o que não quero que volte nunca mais!” Mas o meu coração não me ouve, e de repente, logo é a minha boca que se rebela cheia de nostalgia: “Júlia, Júlia, não consigo parar de pensar em você, Júlia!”.

Mas do nada meu celular toca. E isso, — Graças a Deus! — faz pausar esses pensamentos.

— Alô, senhor Gustavo? — fala a voz do outro lado da linha.

— Sim, é ele. Quem fala?

— Olá, senhor Gustavo, muito prazer, aqui quem fala é o atendente Ricardo, falando em nome da operadora Tim. 

Desgostoso, arqueio a sobrancelha, pensando num jeito de me desvencilhar do sujeito. Nisso vejo que uma linda borboleta de cores branca e lilás entra pela janela, e pousa no teclado.

— Como posso te ajudar atendente Ricardo? — digo, admirando a borboleta.

Há uma pausa do outro lado da linha. Quanto a mim continuo com os olhos fincados na tal borboleta que segundos depois fica chafurdando qualquer coisa na superfície. Depois de arquear as asas, ela também as alisa com as patas; parece ensaiar um voo. Do outro lado do telefone, ouço um pigarro, quando finalmente o atendente Ricardo quebra o silêncio:

— Alô, senhor Gustavo? Está me ouvindo? 

Desta vez a pausa é do meu lado. Contemplo o inseto, de maneira que logo a seguir forço o telefonista a falar num tom mais alto: 

— Alô, senhor Gustavo, ainda está aí? Alô! Alô!

— Alô, — eu digo por fim — estou aqui sim. — Depois num tom mais irritado, eu vou direto ao assunto:

— Atendente Ricardo, poderia me adiantar sobre do que se trata a ligação? É que agora estou trabalhando e...

Nisso a borboleta alça voou e, segundos depois, ela pousa na estante de livros, bem na borda de “A ilustre casa dos Ramires”, de Machado de Assis. Depois disso, ela começa a chafurdar aqui e acolá, percorrendo também as bordas de “O Guarani”, depois sobre “A escrava Isaura”, a seguir sobre “Esaú e Jacó”, estacionando sobre “Relato de um certo Oriente”, de Milton Hatoum. “Que gosto apurado essa borboletinha tem!” — penso, e lá da estante, ela se vira e fica me olhando. Acho que nos identificamos.

— Ah, sim, desculpe senhor Gustavo — continua o atendente — é que acabou de liberar um novo plano pra sua linha, e...

Assim que ouço a frase: “É que acabou de liberar um novo plano pra sua linha”, penso em desligar o telefone na hora. Na cara, só pra variar. Mas ao invés de fazer isso, deixo o telefonista continuar seu trabalho; narrando ininterruptamente todas aquelas vantagens no bocal — provavelmente — já úmido do seu telefone, enquanto me ajeito na cadeira e me concentro na barra do cursor que continua piscando, piscando, piscando sem parar diante da tela. Com a voz do atendente me martelando, arrisco teclar uma frase qualquer. A primeira que me vem à cabeça é: “Era uma vez...”, mas logo me recordo do que Paulo Coelho escreveu nas primeiras linhas de “Onze Minutos” e desisto em seguida. Depois eu tento: “Num reino distante...”, mas também não funciona, meu livro não é de fantasia. Daí quando vou digitar a terceira frase, a borboleta começa a voar ao redor, hipnotizando-me completamente. Um tempo depois, — bem depois —sou cutucado por uma fala distante, dizendo tipo: “alô! alô!”, que a princípio entoa fraquinha, bem ao longe, mas que aos poucos vai aumentando no meu ouvido.

Continua...

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