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* Do além

Gênero: Mistério/suspense

Sinopse: Sabe quando estamos muito estressados e, do nada, a vida vem e nos presenteia com algo bom? Pois é, e viver esta experiência boa é um baita alívio, não é não? Bem,... Menos para o doutor Igor que, após tanta correria pra resolver a questão das terras da sua bisavó, no último dia de trabalho ele acaba por atender um casal de velhinhos muito simpáticos, mas que no final, acabam é deixando o advogado com uma baita pulga atrás da orelha.

Do além (amostra)

Doutor Igor precisava definir logo a situação dos documentos das terras que seriam herdadas por sua família, pelo menos enquanto houvesse fôlego de vida em dona Rute, a quase centenária bisavó. E como único advogado formado entre os parentes, já era mesmo esperado que todo o serviço notarial recaísse sobre seus ombros.

A história que a família ouvia desde sempre, era que quando dona Rute era muito jovem, caridosa como era, decidira doar metade das terras — às mesmas que ela herdara após o falecimento precoce dos pais — para a prefeitura de São Paulo, com intuito de favorecer a população mais carente num programa de moradias, tão vultuosamente prometida pelo governo em constantes propagandas de televisão. 

Entretanto, como na época que isso ocorreu, a imobiliária responsável pela venda dos terrenos já fracionados não esperou a devida regulamentação dos projetos de desmembramento das terras de dona Rute, — que demoraria décadas à frente para finalizar — acabou forçando aqueles que já tinham comprado seu pedaço de terra, a utilizar-se de simples contratos de gaveta, sem qualquer valor fiscal.

Insatisfeita com tamanho impasse para os compradores, e também com tamanha demora pra se resolver a questão na prefeitura, durante os anos seguintes dona Rute preocupou-se com aquelas pessoas que haviam depositado seus recursos — quem sabe — de uma vida inteira, sem, contudo, poder receber a devida segurança que só a escritura definitiva, registrada em cartório poderia proporcionar. 

Resolver esta questão, como certeza era um dos últimos desejos de dona Rute; ou seja, deixar a documentação das terras organizada, pra que, quando por ventura seu tempo na terra estivesse a expirar, ela — estando com a consciência limpa — pudesse partir deste mundo em paz.

Sendo assim, após repassar a doutor Igor estas responsabilidades, um mês depois era debaixo de um sol escaldante e cáustico, que seu neto dava sequência ao trabalho extenuante, com muito vai e vens — às vezes frustrantes — entre prefeitura, cartórios e bancos.

Após findado uns trinta dias seguidos de muita correria pra lá e pra cá, era certo que doutor Igor havia percorrido um trajeto muito mais logo que seu físico de homem meia idade permitia.

Mas ainda restava um último cliente pra visitar. Seu nome era Joaquim, e o da esposa, Anastácia, ambos os proprietários de um pedaço de terra com pelo menos uns trinta mil metros quadrados de área de pasto e vastas matas. 

“Este pesadelo está prestes a acabar” Pensou doutor Igor, enquanto desviava os pneus da camionete das erosões que, ora e outra, pipocavam na estrada.

 Após avançar matas e, corajosamente aventurar-se por cima de matas burros a quase despencar, por fim o advogado avistou uma porteira que, de acordo com o mapa, confirmou ser a entrada da chácara que procurava.

Ele estacionou a camionete abaixo de um carvalho e, olhando à volta, um silêncio sepulcral tomava conta do lugar. Só ora e outra que o silêncio era rompido pelo grasnar de alguns pássaros voando ao longe, na linha do horizonte.

— Ôh de casa! — Gritou doutor Igor já de pé na porteira. 

Como não se ouviram respostas, doutor Igor começou a bater palmas e a gritar cada vez mais alto: “OH, DE CASA!”, se esforçando muito para que o eco da sua voz alcançasse o mais longe possível.

A insistência durou até a garganta quase falhar. Só um tempo depois, — com ele já suspenso sobre as ripas da porteira — que ele percebeu que o cadeado que trancava a porteira, estava aberto.

Após caminhar alguns metros adentro, o advogado deu de frente com uma cabana bem rústica, com árvores muito altas ao derredor. Mais ao fundo, um pomar desabrochava seus frutos a perder de vista.

***

De repente, um estrondo forte eclodiu justamente lá pras bandas do pomar. Foi quando o advogado se assombrou com a manada de porcos que veio correndo morro acima, disparados na sua direção.

Doutor Igor estilhaçou a janela da cabana, e correu para enfiar a mão pra destravar a porta de madeira. 

— PUTA CARALHO! — gritou.

E ali, do lado de fora da cabana, um cachaço gigante liderava os outros porcos que ocuparam todo o lugar. Ele grunhia, saltitava pra todos os lados, ora e outra faiscando os olhos nervosos e vermelhos, numa tentativa violenta de intimidação.

Estando salvo pelo gongo, ali dentro doutor Igor admirou móveis antigos, mas bem conservados, e que de certa forma suavizavam a aura leve e tranquila que pairava pelo lugar. Por exemplo: no meio da sala, um jogo de sofá abraçava uma televisão preta e branca que repousava confortável por cima de uma bancada de madeira rústica. 

Nas paredes; dois ou três aparadores com base de metal; sustentavam ao longo do tampo de vidro; quinquilharias, como; porta retratos, canecas de metal, um cinzeiro e enfeites de massa de modelar. O advogado, — curioso como de fato era — bisbilhotava o lugar, quando de repente, ouviu ao longe o assobio alto, cortante, que acabou por chamar a atenção da manada que, e logo m seguida partia em disparada para os fundos.

Foi só depois de o advogado sair da cabana pra tentar entender o que tinha acontecido ali, que pôde ver lá em baixo, um velho, — provavelmente o que tinha assoviado pros porcos descerem — e que agora terminava de trancá-los dentro do chiqueiro.

Continua...

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